segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Há indicação clínica do consumo de probióticos em doenças inflamatórias do intestino?



As doenças inflamatórias intestinais (DIIs), que incluem a doença de Crohn, colite ulcerativa e
pouchite, são desordens crônicas recorrentes de causa desconhecida, caracterizadas por
inflamação do trato gastrintestinal. Enquanto a colite ulcerativa é limitada ao cólon, a doença de
Crohn pode estar presente em todo o trato gastrintestinal, da boca ao ânus. Já a pouchite é uma
inflamação inespecífica da mucosa intestinal do íleo, associada ao desequilíbrio da flora microbiana
(1).
Considerando que as DIIs podem ocorrer como uma resposta alterada da microflora da mucosa
intestinal, a introdução de probióticos como agentes terapêuticos pode equilibrar a microbiota,
melhorando a barreira epitelial. Esta barreira, por sua vez, pode modificar a resposta do sistema
imune com conseqüente atenuação da resposta inflamatória intestinal (2). Assim, para auxílio no
tratamento e prevenção das DIIs, os probióticos poderiam atuar em três distintos mecanismos (3):
1. Probióticos podem bloquear os efeitos de bactérias patogênicas por meio da produção de
substâncias bactericidas e da competição por aderência no epitélio intestinal
2. Probióticos podem regular a resposta imune por meio da imunidade inata por modulação das
vias de sinalização inflamatórias (receptor toll-like)
3. Probióticos podem regular a homeostase do epitélio intestinal
O uso de probióticos em DIIs é mundialmente estudado. No entanto, existem diversas lacunas a
seu respeito, principalmente devido à grande variedade de cepas probióticas, modo de
administração (sozinhas ou associadas – mais de uma espécie ao mesmo tempo), população
analisada, bem como a gravidade da doença.
Por todas estas questões, pesquisadores da Universidade de Yale (Estados Unidos) resolveram
publicar, em julho de 2008, as recomendações para o uso de probióticos, ou seja, em quais
doenças o uso de probióticos é recomendado e qual o grau de recomendação (4).
Com base nos estudos disponíveis na literatura, as recomendações foram divididas em A, B e C.
Recomendação A: fortemente positiva, com base em estudos bem conduzidos e controlados.
Recomendação B: positiva, porém alguns estudos sem efeito. Recomendação C: algum indício
positivo, porém número de estudos limitados e evidências insuficientes para recomendação A ou B.
Desta maneira, temos recomendações de uso de probióticos nos seguintes casos (4):
- Recomendação A: diarréia aguda infantil, prevenção de diarréia associada ao uso de antibiótico,
prevenção e manutenção da remissão da pouchite (ou bolsite) e prevenção e tratamento de
eczema atópico associado à alergia ao leite de vaca
- Recomendação B: doenças inflamatórias intestinais e síndrome do cólon irritável (somente para
Bifidobacterium)
- Recomendação C: colite ulcerativa
e indução de remissão/manutenção da doença de Crohn (resultados também encontrados em duas
revisões sistemáticas do Instituto Cochrane) (5,6)
Em relação à enterocolite necrotizante, os autores ressaltam que não há estudos suficientes para
se fazer uma recomendação, mas os existentes até o momento parecem ser promissores
.

O ponto forte do tratamento com probióticos é que eles são bem tolerados pelos pacientes com
DIIs, de todas as idades, e não aumentam os sintomas ou interferem na terapia convencional
medicamentosa. Os estudos disponíveis até o momento indicam que os probióticos ocasionam
melhora na qualidade de vida dos pacientes com DIIs (7).
Letícia De Nardi Campos
Nutricionista do Ganep Nutrição Humana. Mestre pelo Programa de Pós-graduação em
Gastroenterologia da FMUSP. Pesquisadora do Laboratório de Metabologia e Nutrição em Cirurgia
(METANUTRI - LIM 35 - FMUSP). Especialista em Nutrição Clínica pelo GANEP.

Referências:
1. Seksik P, Dray X, Sokol H, Marteau P. Is there any place for alimentary probiotics, prebiotics or
synbiotics, for patients with inflammatory bowel disease? Mol Nutr Food Res. 2008 in press.
2. Fedorak RN. Understanding why probiotic therapies can be effective in treating IBD. J Clin
Gastroenterol. 2008, in press.
3. Vanderpool C, Yan F, Polk DB. Mechanisms of probiotic action: Implications for therapeutic
applications in inflammatory bowel diseases. Inflamm Bowel Dis. 2008 Jul in press.
4. Floch MH, Walker WA, Guandalini S, Hibberd P, Gorbach S, Surawicz C, Sanders ME, Garcia-
Tsao G, Quigley EM, Isolauri E, Fedorak RN, Dieleman LA. Recommendations for probiotic use--
2008. J Clin Gastroenterol. 2008;42 Suppl 2:S104-8.
5. Mallon P, McKay D, Kirk S, Gardiner K. Probiotics for induction of remission in ulcerative colitis.
Cochrane Database of Systematic Reviews 2007, Issue 4. Art. No.: CD005573. DOI:
10.1002/14651858.CD005573.pub2.
6. Butterworth AD, Thomas AG, Akobeng AK. Probiotics for induction of remission in Crohn's
disease. Cochrane Database of Systematic Reviews 2008, Issue 3. Art. No.: CD006634. DOI:
10.1002/14651858.CD006634.pub2.
7. Fedorak RN, Dieleman LA. Probiotics in the treatment of human inflammatory bowel diseases:
update 2008. J Clin Gastroenterol. 2008;42 Suppl 2:S97-103.


Fonte:
www.nutritotal.com.br



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